terça-feira, 4 de novembro de 2008

Lei não garante conservação de 25% das espécies do Cerrado

Lei não garante conservação de 25% das espécies do Cerrado
Essa é a estimativa de levantamento da ONG Conservação Internacional; estudo sugere que apenas a legislação ambiental não é suficiente para proteger a biodiversidade da região frente ao avanço do agronegócio.

Brasília, 14 de outubro de 2008 —

Um estudo realizado pela ONG Conservação Internacional (CI-Brasil) revela que o cumprimento do código florestal não é suficiente para preservar pelo menos 25% das espécies do Cerrado. Segundo a pesquisa, divulgada ontem durante o II Encontro Internacional sobre Savanas Tropicais, organizado pela Embrapa, em Brasília, pelo menos 340 espécies de mamíferos, aves, répteis e anfíbios do Cerrado correm risco de extinção caso a responsabilidade da conservação recaia somente sobre os proprietários rurais da região. Mesmo que todos eles cumpram o determinado pela legislação ambiental, como a manutenção de pelo menos 20% da propriedade como reserva legal, várias espécies podem ser perdidas.

Segundo Ricardo Machado, diretor do programa Cerrado-Pantanal da CI-Brasil, além do cumprimento do código florestal pelos proprietários rurais, é preciso que regiões importantes para a biodiversidade também sejam protegidas para a manutenção da biodiversidade do Cerrado. Sem elas, de acordo com Machado, o desenvolvimento econômico ocorrerá de maneira insustentável uma vez que espécies da fauna e da flora que desempenham um importante papel na manutenção do clima, na proteção dos solos, dos rios e de suas nascentes ou na polinização de cultivos e no combate de pragas irão desaparecer. “Somente a manutenção de áreas determinadas pela lei não garante a sustentabilidade do agronegócio”, diz Machado, um dos autores do estudo. “O esforço privado deve ser acompanhado da criação, da implantação e da manutenção de reservas públicas destinadas à conservação da biodiversidade”, avalia.

Uma das alternativas para a exploração econômica sustentável do Cerrado, segundo Mario Barroso, gerente do programa Cerrado-Pantanal da CI-Brasil e co-autor do estudo, é manter as áreas nativas e intensificar a produção nas áreas produtivas. “Sistemas otimizados de produção, emprego de tecnologias de ponta e o manejo racional de paisagens são as ações necessárias para que se alcance o uso sustentável dos recursos naturais”, diz. Barroso explica que é imprescindível a união de esforços públicos e privados para a manutenção da biodiversidade do Cerrado.
Planejamento sustentável – O estudo foi realizado com base nos princípios da Biogeografia de Ilhas, que estabelece uma relação matemática entre o tamanho de áreas nativas e a quantidade de espécies que elas podem manter. Segundo Barroso, o levantamento revela que é impossível manter todas as espécies e suas populações em condições saudáveis quando a maior parte da vegetação nativa é suprimida para dar lugar ao avanço do agronegócio. “É preciso fazer mais do que a lei prevê”, diz.

Machado explica que o Brasil já tem mapeado quais são as áreas importantes para a conservação da biodiversidade. Segundo ele, bastaria cruzar esse mapa com o mapa de regiões economicamente importantes para que se avalie, de um lado, quais são as oportunidades de conservação existentes e, de outro, quais seriam as áreas produtivas que podem ser consolidadas. “No caso de conflitos, ou seja, de áreas importantes tanto para a conservação quanto para a produção, novos modelos de desenvolvimento que sejam menos agressivos e mais sustentáveis devem ser pensados”, conclui.
Fontes:
Mario Barroso, gerente do programa Cerrado-Pantanal da CI-Brasil
Tel.: (61) 3226-2491
Ricardo Machado, diretor do programa Cerrado-Pantanal da CI-Brasil
Tel.: (61) 3226-2491

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